O Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) da organização Repórter Brasil lançou, na última terça-feira (23), o relatório “Em terras alheias: a produção de soja e cana em áreas Guarani no Mato Grosso do Sul”.
Com base em dados de órgãos públicos e entrevistas realizadas nas aldeias, o trabalho buscou mapear a incidência de produtores destas mercadorias em seis áreas no Estado: as Terras Indígenas Jatayvary, Guyraroká, Takuara e Panambi-Lagoa Rica, já “declaradas” pela Fundação Nacional do Índio (Funai), e as áreas Laranjeira Nhanderu e Guaiviry, que ainda estão sendo estudadas pela Funai.
De acordo com informações da própria Repórter Brasil, a divulgação deste relatório acontece em um momento em que os conflitos de terra entre indígenas e produtores rurais têm se acirrado no Mato Grosso do Sul. No período entre a realização das pesquisas, em julho deste ano, e sua divulgação, várias retomadas de terra pelos Guarani-kaiowá levaram a novos confrontos e reações extremadas por parte de fazendeiros, inclusive com ataques à bala a acampamentos e ameaças explícitas.
O relatório apresenta breves históricos dos processos de retomada das áreas estudadas. Isso inclui dois dos mais brutais casos de assassinato de lideranças Kaiowá: os caciques Marcos Veron, na Terra Indígena Takuara, e Nizio Gomes, em Guaiviry. Também aponta os impactos da produção de soja e cana-de-açúcar, além de listar propriedades privadas e produtores no interior desses territórios.
Com a divulgação do relatório, a Repórter Brasil chama a atenção para a cadeia produtiva da soja e da cana nos problemas decorrentes da ocupação das terras Guarani-Kaiowá pelo agronegócio.
Duas usinas no Estado, São Fernando e Raízen, já se comprometeram a não mais comprar a produção de cana em áreas indígenas. De acordo com a organização, tal medida de responsabilidade socioambiental empresarial é um primeiro passo no reconhecimento dos direitos indígenas pelo setor produtivo. (pulsar)